terça-feira, 28 de agosto de 2018

Meu caro amigo...



As poltronas estão a descascar no mesmo ritmo em que surgem as rugas no rosto estressado e desgastado. A compulsão por comprar livros resultou em estantes cheias de informações e muita poeira. Poeiras que cobrem títulos e subtítulos. Alguns com marcas de dedos em pró de uma pesquisa ou a vontade de esticar as pernas e folhear enquanto conhecimento entram pelos olhos e estacionam na mente e a música pelos ouvidos acalentando a alma.

Nesses tempos em que vivemos, descansar significa uma boa viagem, uma prosa com os mais chegados, encher três copos com a mesma garrafa, se aconchegar em uma pele quente que busca o refúgio recíproco. Eu tiro por descansar qualquer coisa que não me faça sentir o desesperador aperto no peito que causa vertigem e náuseas. Antes eu achava que a dor da vida fazia com que eu me sentisse vivo e que eu precisaria daquilo para sempre para me manter em pé. Hoje, como castigo o corpo estremece só de pensar em sentir dor novamente. É igual a aversão ao cheiro da vodka depois de um porre. Está tudo bem por aqui, obrigada.

A vida não bate em ninguém, ela é só uma mãe assistindo o filho pequeno se jogar e se debater no chão do mercado querendo doce. Nós somos a criança que em nossa mentalidade imatura e sem compreensão julgamos aquela mãe estar sendo dura conosco. A verdade é que ela só está ali olhando pra nós e pensando "pobre coitado, ainda é uma criança". Depois de velho, em determinados momentos agimos como essa criança, que acha que a mãe tem que ter pena da gente. Que ela maltrata e bate quando somos nós que nos debatemos no chão, nos torturamos e choramos.

Paz para alguns é deitar a cabeça no travesseiro com a consciência limpa. Sucesso para outros é subir de cargo na empresa. Prazer pode estar em interromper a rota para casa e assistir aquele músico de rua tocar seu instrumento gasto de longas aventuras debaixo de chuva e com tapas de vento gelado no rosto.

Hoje na rota para o trabalho, ficou na mente a imagem do casal de idosos que passaram por mim de manhã, risonhos como quem se desapegaram de obrigações e responsabilidades sociais e só querem saber um do outro. De levar comida para os gatos e passarinhos. De mandar a receita para a vizinha daquele bolo da semana passada que ela cobra todos os dias. Pegar jornal no metrô e chegar cedo na feira da madrugada para pegar as frutas e verduras mais bonitas e maduras. Regar todas as plantas e assistir o futebol na poltrona velha.

Hoje aprendi com a Rosa - uma nova aluna minha de 65 anos - como deduzir se uma pessoa gosta de ser referida como "senhora" ou "você" pela aparência, o vocabulário e a vestimenta. Foi interessante, Rosa, não sabia que da mesma forma que "senhora" é uma referência respeitosa, ela pode ser invasiva. Vou me atentar a este aprendizado e praticá-lo.

Enquanto escrevo, os dias passam como filmes na minha mente. Todos eles. Alguns com mais imagens, outros parecendo filmes de videocassete mofado. Uns mais nítidos que outros. Isso conforme tempo e relevância.

É bastante coisa, meu caro amigo. Muito se observa quando está só consigo. Você e você. Solidão é um termo que assola pessoas, como um bicho papão. Mas não saber viver consigo mesmo é igual viver em um relacionamento desgastado pelo estresse, a rotina, a mesmice e confusões. Não se entende mais o outro, não parece ser a mesma pessoa que você conheceu, dormiu, fez amor e dividiu o arroz da mesma panela.

O caminho trilhado corretamente deve se repetir na ida e na volta. Mas se não prestaste atenção na rota, não existe GPS para essa trilha, sabe? Onde não ir é tão importante saber quanto onde chegar. Esse trajeto não é aquele clichê da vida que os Coachings comentam nos treinamentos junto com um monte de estórias que eles montam entre eles pra fazer você entender o comportamento comercial com fábulas. Eu estou falando da trilha bagunçada e sem marcas de migalhas de pão que vão entre sua mente e seu coração. Já sabe de onde desviar e qual caminho não pegar para não atrapalhar seu trajeto?

Você define o que lhe traz paz. Pode ser ouvir uma música da época em que seus pais saiam para comer cachorro quente juntos. Assistir aquele senhor de idade preparar flores para vender na feira do Bom Retiro. Brincar com cachorros. Ler ou dormir até o colchão ficar marcado com as curvas do seu corpo. Pode ser beber até se esquecer de quem é. Sentir o cheiro do mar. Sucesso pode ser conseguir completar aquela coleção de CD do Zeca Pagodinho, conseguir chegar no mercado antes dele fechar, ou pegar um ônibus cansado e ter lugar pra sentar. O prazer pode estar em saborear um pastel da feira com óleo de três finais de semana atrás, alguém te dar o livro que faltava pra sua coleção ou ser pego de surpresa no meio da noite com quem lhe importa enviando suas músicas favoritas.

Aproveita deste para se aconchegar na sua poltrona velha também, meu rapaz. Aprender sobre si mesmo, o que lhe agrada e traz paz. Este é o maior aprendizado e o melhor e mais honesto atalho para a rota final.

[Johann Strauss II - The Blue Danube ♪]

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Ninguém



Quando eu era mais nova, sempre prezei pela presença e carinho de amigos e pessoas que gostava. Já me permiti tomar muito na cara e me prejudicar por receio de dizer não e acabar conseguindo a inimizade, ódio ou raiva de alguém.

Sempre pergunto, às vezes aleatoriamente para os que eu considero, quais são os meus defeitos, se faço algo que incomodo, que ofendo. Às vezes a gente faz coisas que não são legais, mas não percebe. E amigo não é só aquele que senta na mesa pra tomar cerveja com você, mas que também te pega pelo braço e fala na sua cara, por sms ou messenger se você fez algo que não pegou bem, que foi idiota e que você está fazendo há um tempo mas até então ninguém tinha parado pra te avisar.

Algumas das minhas amizades são de longa data. Pessoas que já briguei de ficar sem nos falarmos por longas semanas e meses, mas depois eu cedia ou ia atrás. Porque é aquilo ali, né? Não adianta ver seu amigo ser um imbecil ou fazer merda e virar a cara pra ele, de graça, sem informá-lo do que ele fez. Isso não é justo.

Acho que isso torna a gente vulnerável de tal forma, como se abríssemos nosso peito e ele fosse um portal espelhado igual aos dos filmes e jogos de videogame que a gente vê por aí. Falar sobre o que pode de derrubar, sabe?

Tinha um emocional um tanto fraco também. Não no sentido de não sentir, mas por sentir demais. Nunca consegui de fato me envolver casualmente com uma pessoa, sem acabar me imaginando fazendo ela sorrir num piquenique no parque, assistindo o filme favorito dela, sendo a pessoa que a incentivou a correr atrás dos sonhos dela ou fazendo um cafuné até ela dormir.

Nas amizades era a mesma coisa, tirando o cafuné ou o envolvimento sexual, mas queria ver meus amigos voarem como balões e eu ser a pessoa que fica no chão segurando as cordinhas para que não escapassem, olhando-os voar e sorrindo. Sempre foi muito gratificante pra mim ver meus amigos felizes e alcançando seus objetivos. Estando eu na merda, era ainda melhor, pois tinha um motivo para me sentir contente.

Mas com exceção de um, as pessoas que já passaram ou ainda estão na minha vida, de uma forma ou de outra já acabaram falando ou tendo atitudes que me impactaram de forma negativa, que ficaram na minha cabeça, que me afastaram.

Eu tenho muitos defeitos, muitas inseguranças, muitos complexos. Nunca me senti ou me achei melhor do que absolutamente ninguém. Trabalho todos os dias o hábito de julgar situações ou pessoas, ainda que seja somente por pensamento. Já que isso se torna algo inconsciente seu, de tanto que você é instruída a fazer desde que se entende por gente.

Eu estou aqui com 24 anos. Quando falo que estou ficando velha, não falo no sentido de sabedoria, me sentindo um Gandalf. É que antigamente, antes da terceira idade se tornar mais ativa do que a primeira e segunda idade, nós chamávamos de velho pessoas com pouca disposição.

Hoje em dia, pessoas pelas quais já fui apaixonada, amei e me destrocei por elas me fizeram aprender muito sobre amor e relacionamento mesmo sem nunca ter tido um. Pessoas com as quais já até fui invasiva de tão desesperador que era a vontade de ver a pessoa e eu acabei tomando atitudes deselegantes em relação a insistência, que ainda tem amizade comigo mas que hoje se tornou algo tão insignificante, que até chateia a gente, pelo tanto que ela já significou.

Estar se sentindo velha e cansada, embora fale muito, não é algo de que me orgulho. Não tenho disposição de investir em amizades novas. Pessoas que a gente acompanha por redes sociais e morre de vontade de ter por perto pra sentar na calçada, bater um papo e tomar uma cerveja gelada no copo americano. De conquistar a confiança e se tornar o refúgio dela. Pra mim, fazer amizade só pra role eu nem faço. Pra ser meu amigo, tem que me envolver nas furadas, dividir os problemas comigo, chorar no meu colo e eu ser a primeira a saber se você passou na faculdade dos seus sonhos ou conseguiu vaga na empresa que mais almejou trabalhar a vida toda.

Vida amorosa é algo em que eu nunca apostei. A gente sonha porque é como se fosse em Westworld, como se você tivesse sido criada pra sentir e pensar naquilo em consequência de algo que fosse programado pra te fazer sentir e pensar naquilo. Já me apaixonei bastante, já amei de me dilacerar. O problema é que eu nunca falo do meu amor, eu sinto bastante e tento demonstrar como sei fazer, ou como acho que sei. Mas nunca aconteceu como nesses filmes, sabe? Da gente sentir algo por alguém sem ela saber, mas ela também sentir pela gente. Geralmente, o que eu sentia de amor ou carinho, a pessoa sentia de repulsa. E no final a gente acaba fazendo isso com quem gostava da gente também, às vezes sem até perceber.

Hoje, ter dinheiro é raro então eu dificilmente troco aquela oportunidade de economizar por uma noite com amigos em bar ou balada. Prefiro pegar um cinema sozinha nos dias mais baratos, comprar um livro ou pedir alguma comida que esteja com vontade, mas sair com galera não.

No final das contas o problema não era a garota que eu chamava de amiga e que debochou de mim por anos fazendo eu me sentir um lixo. Não era dos caras que me apaixonei e que saíam comigo como se estivesse tudo bem e dias depois apareciam com relacionamento novo ou reatado com ex, ou que simplesmente não gostavam de mim como gostava deles. Não é dos amigos que muitas vezes não fazem o mínimo de esforço pra pensar antes de dizer uma palavra que possa te ofender ou passar uma impressão muito ruim sobre o caráter deles. O problema sempre foi meu, que vi problema demais em tudo. Que fico analisando demais, como se porquê um disse que é legal ser assim, eu tenha que ser o tempo todo com todo mundo. E não é só olhar o rabo dos outros não. É olhar tanto pro meu, que não me sinto uma companhia legal ou saudável pra ninguém. Não ser receber elogio sem ser deselegante, porquê não sei o que responder, se só um obrigada já serve. Eu desconfio mais de quando as pessoas demonstram coisas boas pra mim ou por mim do que coisas ruins. Eu não sei distinguir deboche ou tiração de sarro de uma demonstração sincera de um sentimento bom. Eu aceito que sejam babacas comigo porque além de ser o que eu acho que mereço, é quando eu sei que é sincero. Ninguém te trata mal por impulso, pra fazer uma média, por interesse, desespero ou pra esconder alguma coisa. Sempre um mal tratamento vai ser sincero, vai ser de dentro. O bom eu nunca sei.

Nessa loucura, eu escolhi ficar sozinha. Um pouco cansada emocionalmente ou psicologicamente. Cansada de achar que eu tenho que opinar em tudo que é assunto que surge, eu não tenho. De achar que eu tenho sempre que passar boa impressão, eu não tenho. Eu sou um ser humano, vou ter dias péssimos, a maioria deles na verdade. Mesmo tendo dias ruins, nunca desconto meus problemas em ninguém, o mau humor de ter acabado de acordar, de sentir forme, de ter me permitido ser aborrecida pelas atitudes de outras pessoas. Eu sempre aviso e peço pra ignorarem minha existência, se possível. De achar que todo mundo tem que ser desconstruído, sem preconceitos, inteligentes e bem instruídos socialmente. Cada um teve sua criação, seu caminho traçado até se tornar alguém que pudesse controlar os próprios passos. E tem gente aí até hoje que é marionete das pessoas, dos amigos e família, principalmente no que se trata de opiniões.

Mas aí o tempo vai passando e meu interesse por panelas antiaderentes vai aumentando e pela companhia das pessoas diminuindo. Cada vez mais dou valor a deitada que meu cachorro da na minha perna pedindo carinho, os torrents legendados, numa carteira assinada, no sossego e no silêncio.

Como vou conviver com pessoas se eu não sei conviver comigo? De que adianta tentar se fazer de compreensível com meus amigos, de querer ficar por perto se não vou conseguir ser capaz de não detestá-los ou desprezá-los amanhã? Não sou capaz de entender nem o meu desinteresse, imagina as pessoas que já considerei como amigos e até mesmo os amores? Eles são seres humanos normais como todo mundo, como eu, inclusive. Por quê sinto tanta raiva, tanto asco e preguiça deles? Ah, é verdade... porque sinto de mim também.

sábado, 15 de agosto de 2015

Rotina


28 de Fevereiro de 2013

Hoje acordei como quem resolveu viver, essa ideia indefinível que é viver. Depois de anos me deixando levar pelos resultados das pesquisas que diziam que arrumar a cama ao se levantar fazia mal a saúde, hoje estiquei o lençol, desamarrotei os travesseiros e ajeitei os chinelos no pé da cama. Encostei na entrada do quarto com uma boa xícara de café e observei a cama feita. Puxei de leve o lençol, apalpei os travesseiros e recostei na cama novamente. Gosto de acordar antes do despertador gritar na minha orelha como uma vadia, nunca gostei de ninguém me acelerando, ainda mais algo tão medíocre como um despertador. Ainda era noite, fresca e gostosa para se conhecer o mundo fora do horário comercial. Coloquei a xícara de canto e apoiei as mãos atrás da cabeça. 

Sabe que uma cama desfeita traz tantas lembranças quanto um álbum de fotografias? Às vezes de momentos que nem chegou a ter na vida. Um alguém com quem partilhou momentos importantes, a própria vida ou uma simples noite de sexo. Cada uma dessas coisas podem ser intensas de maneiras diferentes para as pessoas, mas como eu sempre fui um cara muito intenso. Logo a mulher com quem tive uma noite de sexo, veio a se tornar a mesma com quem partilhei momentos importantes e passei a partilhar de minha própria vida. Meus medos, meus receios, meus hábitos, odores e pensamentos. Hoje só resta partilhar do Montblanc que eu comprava pra ela usar pra mim, que impregnou como uma maldição em todas as roupas de cama da casa, dos estofados, das minhas camisas. 

Terminei aquele café lá no banho mesmo. Quase esfriou, esquecido e trocado por meras lembranças. Encostei as mãos na parede e deixei aquela água quente descer pelas minhas costas, quente como o inferno que a gente cria na mente da gente, como o ardor do coração, como a água que faz o café de manhã. Sentei de novo na beira daquela cama semi desfeita, bem feita como quem desfez, calcei os sapatos e levantei como quem estava sendo puxado de volta com todas as forças. Ajeitei o cabelo na frente do espelho, peguei minha mochila e saí.

Trabalhava num fundo de uma Vila na Consolação. As partes mais gratificantes do dia eram as saídas em serviço pro cuzão que pagava meu salário. Aquela correria no dia e poder fumar meu cigarro enquanto fingia que colocava os pensamentos no lugar. Esbarrando em pessoas jogadas na rua, gente que não tem uma rotina ou uma vida pra planejar. Gente que não sabe se vai tomar um café quente quando acordar. Gente que não tem uma cama feita para se desfazer e se remontar. Enfio a mão no bolso e dou todas as moedas que tenho, sem olhar valor.  - Deus abençoe - disse o senhor, sem nem ao mesmo saber o quanto lhe dei, só sendo grato por ato. Abri um sorriso e acenei com a cabeça. Nunca parei para decidir crença, acho que a vida é muito mais do que se apoiar em figuras religiosas e esperar que elas joguem tudo o que você quer do céu, que é no que a maioria das pessoas acreditam. Ou acreditar que alguém me fará perder dinheiro, morrer ou sofrer de qualquer outra forma só por eu ter me masturbado pensando na vizinha cujo marido não faz jus. Não desacredito de forças superiores, só acho antiético me debruçar sobre elas para que me carreguem.

Voltei para o escritório mais rápido do que planejava, o dia passou arrastado mas ainda assim pulei o horário de almoço para adiantar a papelada. Sempre arrancando sorriso e satisfação daquele cuzão que ganhava em cima do meu trabalho mas que não me pagava o que eu trabalhava. Suspirei como quem esperava a morte quando passei a chave na porta, aliviado. Suportando meio dia de cada vez. Me despedi dos participantes que sobraram dos meus dias rotineiros, cobrindo um buraco ou outro aqui com sorrisos e "bom dias". Subi a rua e atravessei para pegar o ônibus. Muitas pessoas com feições como a minha. Esgotada, infeliz, insatisfeita e com muitos pensamentos e dívidas para acertar. A mesma mulher que fazia e desfazia minha cama todos os dias pegava ônibus comigo na volta. Foi aqui que a conheci, me pedindo um isqueiro emprestado. Por um dia, dois, três, no ponto de ônibus, depois do sexo, na cama desfeita. Lá estava ela de novo, como desde a última vez. Feições cansadas e rotineiras, mas viva e linda. Mulher e agora mãe. Entrelaçada por outros braços, que antes eram os meus. Também partilhávamos de estresse. Ela deitava em meu peito, enquanto a segurava, exausta, esperando um coletivo para nos espremermos em cantos até o nosso destino, nosso lar, quente como nossa primeira refeição decente, nosso banho quente, quente como o café que ela fazia todas as manhãs, quente como ficava seu lado da cama, como era seu corpo. Ela tem outro alguém para esvaziar sua mente no trajeto para casa, para aconchegá-la nos braços. Alguém para elogiar a barba por fazer, o corte de cabelo. Alguém para brigar por ciúmes e insegurança, para esquentar o café de manhã, arrumar e desfazer a cama. Alguém para esquentar seu corpo.

Sempre pego ônibus depois dela, nem que eu perca todos. No começo do fim, um coletivo era a única coisa que ainda partilhávamos. Hoje é o cheiro dela que não sai da minha casa.

[Ouvindo Radiohead - Codex]

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Foda-me com amor


Minha cabeça parecia uma casa zoneada depois de um arrombamento, mas era só a bagunça dos meus pensamentos. Ele brigava pelo olhar, o aparente desprezo, talvez a vontade de escutar meu pescoço se quebrar. A casa ficou como meus pensamentos, toda zoneada e suja. Toda louça que ganhamos de presente para a casa nova estavam por toda parte, em pedaços. A toalha de mesa arrastando no chão por cima dos cacos, manchada de vinho, como um vestido ensanguentado de uma mulher violentada. Por entre o barulho dos móveis em atrito uns com os outros, seus gemidos e xingamentos. As unhadas em minhas costas, cada vez mais fundas. Ele agarrava por entre meus cabelos, com a força de quem iria suspender todo meu corpo.
- Me chupa...
Esfregava a língua por entre seus lábios carnudos no mesmo ritmo em que ele deslizava seus dedos dentro de mim, molhada e quente. Aquela barba roçava no meu pescoço enquanto distribuía beijos e mordiscadas em meu rosto, minha orelha... no pé do ouvido, ele sussurrava:
- Me chupa. Agora!
Ele ofegava enquanto eu descia a língua pelo seu pescoço... seu peito, lambendo, mordendo... beijando.. Sua barriga... suas coxas. Sentia sua pele ferver. Olhava-o nos olhos quando não jogava a cabeça para trás e gemia alto. Senti-a o pulsar dentro da minha boca, percorrendo devagar com a língua de cima para baixo, seus gemidos cada vez mais intensos. Seu pau cada vez mais latejante...Ele socava, como se fosse uma boceta apertada, socava cada vez mais rápido e forte enquanto apertava minha nuca por entre os cabelos. E gemia, aquele gemido que me umedecia as coxas e arrepiava cada parte do meu corpo. Seu gozo lambuzou meu rosto, quente. Ele levava cada gota com os dedos até minha boca, enquanto sentia minha boceta pulsar ouvindo seus gemidos...
Ele ainda brigava comigo pelo olhar, um misto de ódio e prazer. Gozo e sangue. Ele queria me rasgar ao meio, de todas as formas que se possa fazê-lo. Agarrou-me pelo pescoço e me empurrou de frente para parede fria e dura. Pressionou seu corpo no meu e deslizou pra cima e para baixo. Sentia a água quente descer por entre nossos corpos. Com uma das mãos segurou as minhas contra parede, enquanto tocava meu corpo com a outra. Enfiava fundo seus dedos em mim, devagar e com força, enquanto roçava seu pau na minha bunda, duro e latejante. Me penetrou por trás, soltando um gemido rouco no meu ouvido.
- Vou te foder toda, minha putinha!
Ele metia com força, com vontade, como se fosse o rabo mais gostoso que ele tivesse comido. Metia... metia... mordia meu ombro por entre gemidos e me pressionava cada vez mais na parede, fazendo meus seios enrijecerem nos azulejos frios. Seus dedos melecados socados dentro de mim. Ele me virou de frente e abaixou, me olhando nos olhos enquanto aproximava o rosto e roçava sua barba áspera agora nas minhas coxas, tocando os lábios devagar. Seus dedos estavam novamente aqui dentro, enquanto sua língua deslizava em círculos, pra cima e pra baixo. Ele me sugava, me engolia. Assistia-o pelo espelho embaçado na parede, deslizar a mão em mim, meus seios, apertando-os com força conforme socava sua língua e seus dedos cada vez mais fundo. Senti minhas pernas adormecerem e tremer. Meu gozo escorria em seu rosto enquanto pressionava-o contra mim, deslizando minha boceta úmida na sua boca, fazendo-o perseguir com a língua. Eu queria ele aqui todo o tempo, dentro de mim. Gostoso, quente, sussurrando no meu ouvido, me tocando... me fodendo.

[Ouvindo The Racounters - Blue Veins] 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Olhos Verdes


Naquele chalézinho do interior, nossas tardes chuvosas, por entre cada livro daquela estante, nos acordes da velha viola, na antiga coleção de discos de vinil, eu a tenho. Olhos verdes, tão graciosa em seu jeito de andar. Em umedecer seus lábios. Lá vem ela outra vez, desconfiada, sente quando estou aborrecido e não importa o quanto, como e porquê, de alguma forma, não sei, ela nunca precisou dizer nada. Me abraçava forte, depois me olhava nos olhos com um singelo sorriso nos lábios, deslizando a ponta dos dedos macios em meu rosto.


Ainda ouço seu coração bater dentro de mim. Olhos verdes, tão graciosa em seu jeito de falar. Quando a conheci, não sabia quem eu era. Perdido por aí, sem distinguir o preto do branco, o claro do escuro. Até que um dia me perdi, em meio ao preto e o claro, o branco e o escuro, em meio àqueles olhos verdes. Seu sorriso me deixava sem graça, sua voz me arrepiava e seu cabelo de tão comprido até em meu rosto batia. Reclamava da minha barba quando estava por fazer, ainda que eu soubesse o quanto gostava. 

Ainda sinto seu perfume nos lençóis e nas minhas camisas desbotadas que gostava de usar. Toca Discos empoeirado, um vinil dos The Smiths perdido atrás da estante, seu favorito. Sentei naquela poltrona antiga onde gostava de ler o jornal de manhã. A luz do Sol de fim de tarde refletindo pelos espelhos e aquele cheiro de terra molhada, chuva e solidão me fez pensar. Um dia ela disse que o mundo dela não era nada sem eu. Engraçado, hoje o mundo a tem, menos eu.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Vem cá,


Senta comigo aqui nessa mesa pegajosa de boteco, pega um copo lá que eu vou te contar umas coisas. Está vendo aquele rapaz ali? Me diz que eu não transpareço ser o que realmente sou. E ele não é o primeiro, hein? Deitou do meu lado lá, cheiroso e quente com a cabeça no travesseiro. Disse que tinha a me oferecer coisas que hoje está dando a outra. Em partes e em sentido diferente, eu realmente não passo tudo o que sinto ou sou, questão de segurança eu acho. Mas, hein? Nesse momento eu senti uma segurança que ainda não tinha sentido com ninguém, mas passou já. Agora, eu queria saber, do fundo do meu ser inconsciente e desvalorizado, como é ser suficiente para alguém que você tem tanta coisa pra oferecer? Que não seja riqueza, Mas conforto, segurança, alegria, paz de espírito, amor, carinho e aquela ideia de ajudar quem se ama a se encontrar na vida e em seus caminhos quando ele estiver de cabeça quente e perdido. Outra coisa, o que a "mentira" proporciona de bom às pessoas que a usam, para usá-la com tanta frequência?

Ah, desculpa eu te chamei aqui e estou te enchendo de perguntas. Muito prazer, meu nome é isso aí. Tudo bem? Como se chama? Como foi seu dia? Almoçou hoje? Você não parece bem e não precisa sorrir pra fingir que está. Dá um abraço, encosta no meu ombro e conta o que perturba a porra da sua mente. Você não está bebendo, quer tomar outra coisa? Quem sabe um café quente. Eu faço, vamos para casa ver um filme... Como disse que se chamava mesmo? Ah, claro. Vamos?

Então, eu sempre gostei do muito simples, tanto que algumas pessoas demonstram repulsa pelo nível de simplicidade das coisas que eu gosto. Acho que é porque o simples vai além do sentido de "humilde" e "pouco", talvez seja tão simples que venha a se tornar nojento e asqueroso, mas eu gosto. Eu gosto da cama desarrumada, sentar no chão, tomar no copo dos outros, beijar a boca depois de ter recebido sexo oral, tragar cigarro salivado, massagear pés, lamber um tórax suado, usar palavreado chulo para expressar a intensidade das minhas emoções, ouvir putaria no pé do ouvido enquanto tocam meu corpo, receber carinho com as pontas dos dedos nas costas, cafuné, demonstração pública de afeto, abraços sem pedir, sentir que sou observada por quem me interessa, tomar café preto e forte debaixo das cobertas fumando um cigarro, ser chamada de inteligente e bonita, quando mexem nos meus cabelos, quando correm pra me cumprimentar quando chego. 

É, eu disse que era nojento... 

Eu procuro tão pouco nas pessoas e parece que o que eu tenho  nunca vai ser bom pra ninguém. É angustiante. Eu sei que sou frouxa nessa parte, que me interesso fácil pelas pessoas e nessas já quero dar tudo o que eu tenho de bom. E muitas vezes por quem me interesso é que não ajo da maneira como queria ou deveria. Geralmente é pra quem dou menos bola. É patético. 

Mas, hein?

E você, do que gosta? Quer café com adoçante ou açúcar? Pega cigarro ali na minha bolsa.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Vazio


Então a vida é mais ou menos isso: Você se apaixona por alguém. Não dá certo. Esse alguém não te quer ou o mundo e as pessoas vão contra. Pelo estilo de vida dos dois, as diferenças de idade e o pelo simples fato de você não ser para o outro, o que ele é para você. E você é obrigado a ficar na espera daquele desencanto, esperando seu coração ser preenchido por outro alguém. Enquanto isso o tempo passa... Seus amigos e amigas mandam você sair e conhecer gente nova. E é tanta gente dizendo essa mesma coisa que parece ser uma obrigação. 

O tempo passa. Você vai acumulando fracassos amorosos. Tudo parece estar bem, até que você começa a relembrar tudo, e bate aquela tristeza. O tempo continua passando, seu coração continua vazio e despedaçado. A vida passa, o sentimento às vezes não. E tudo segue naquele ritmo. Você conhece qualquer pessoa, resolve se envolver com ela por pura conveniência, pelo medo de ficar só ou por ela passar à você segurança, ou fazer você se sentir superficialmente amado. 

Vocês acaba selando um relacionamento. Quando vai ver está se casando do jeito que sua mãe sonhou te ver casando, mas não com a pessoa que você ama. Quando menos espera gera um fruto deste relacionamento vazio. Este fruto te vincula ainda mais à alguém que só te faz bem, mas não faz você se sentir do jeito que a outra pessoa fazia. 

Você envelhece, infeliz, ao lado de alguém que não ama... mas não importa, você está seguindo a vida como ela deve ser seguida. Você está dando andamento nela. Você envelheceu... talvez com netos, uma grande e linda família. Uma família que você decidiu construir com alguém que talvez tenha te trazido paz, dado carinho, amor, uma família. Você racionalmente reconhece isso, mas seu coração continua vazio.

Você construiu uma linda família, mas não com quem você amava. Não com a pessoa que te trazia paz, mas que trazia aquela perturbação deliciosa que ninguém jamais traria. Não com a pessoa que te dava prazer, que te fazia feliz ao mesmo tempo que te enviava ao inferno. Você morre, mas deixa para próxima geração uma linda família... talvez de homens e mulheres que irão se entregar à alguém, alguém que não ame... mas que darão continuidade à sua família linda, de laços mal feitos e relacionamentos vazios.