quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Olhos Verdes


Naquele chalézinho do interior, nossas tardes chuvosas, por entre cada livro daquela estante, nos acordes da velha viola, na antiga coleção de discos de vinil, eu a tenho. Olhos verdes, tão graciosa em seu jeito de andar. Em umedecer seus lábios. Lá vem ela outra vez, desconfiada, sente quando estou aborrecido e não importa o quanto, como e porquê, de alguma forma, não sei, ela nunca precisou dizer nada. Me abraçava forte, depois me olhava nos olhos com um singelo sorriso nos lábios, deslizando a ponta dos dedos macios em meu rosto.


Ainda ouço seu coração bater dentro de mim. Olhos verdes, tão graciosa em seu jeito de falar. Quando a conheci, não sabia quem eu era. Perdido por aí, sem distinguir o preto do branco, o claro do escuro. Até que um dia me perdi, em meio ao preto e o claro, o branco e o escuro, em meio àqueles olhos verdes. Seu sorriso me deixava sem graça, sua voz me arrepiava e seu cabelo de tão comprido até em meu rosto batia. Reclamava da minha barba quando estava por fazer, ainda que eu soubesse o quanto gostava. 

Ainda sinto seu perfume nos lençóis e nas minhas camisas desbotadas que gostava de usar. Toca Discos empoeirado, um vinil dos The Smiths perdido atrás da estante, seu favorito. Sentei naquela poltrona antiga onde gostava de ler o jornal de manhã. A luz do Sol de fim de tarde refletindo pelos espelhos e aquele cheiro de terra molhada, chuva e solidão me fez pensar. Um dia ela disse que o mundo dela não era nada sem eu. Engraçado, hoje o mundo a tem, menos eu.

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