quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Vem cá,


Senta comigo aqui nessa mesa pegajosa de boteco, pega um copo lá que eu vou te contar umas coisas. Está vendo aquele rapaz ali? Me diz que eu não transpareço ser o que realmente sou. E ele não é o primeiro, hein? Deitou do meu lado lá, cheiroso e quente com a cabeça no travesseiro. Disse que tinha a me oferecer coisas que hoje está dando a outra. Em partes e em sentido diferente, eu realmente não passo tudo o que sinto ou sou, questão de segurança eu acho. Mas, hein? Nesse momento eu senti uma segurança que ainda não tinha sentido com ninguém, mas passou já. Agora, eu queria saber, do fundo do meu ser inconsciente e desvalorizado, como é ser suficiente para alguém que você tem tanta coisa pra oferecer? Que não seja riqueza, Mas conforto, segurança, alegria, paz de espírito, amor, carinho e aquela ideia de ajudar quem se ama a se encontrar na vida e em seus caminhos quando ele estiver de cabeça quente e perdido. Outra coisa, o que a "mentira" proporciona de bom às pessoas que a usam, para usá-la com tanta frequência?

Ah, desculpa eu te chamei aqui e estou te enchendo de perguntas. Muito prazer, meu nome é isso aí. Tudo bem? Como se chama? Como foi seu dia? Almoçou hoje? Você não parece bem e não precisa sorrir pra fingir que está. Dá um abraço, encosta no meu ombro e conta o que perturba a porra da sua mente. Você não está bebendo, quer tomar outra coisa? Quem sabe um café quente. Eu faço, vamos para casa ver um filme... Como disse que se chamava mesmo? Ah, claro. Vamos?

Então, eu sempre gostei do muito simples, tanto que algumas pessoas demonstram repulsa pelo nível de simplicidade das coisas que eu gosto. Acho que é porque o simples vai além do sentido de "humilde" e "pouco", talvez seja tão simples que venha a se tornar nojento e asqueroso, mas eu gosto. Eu gosto da cama desarrumada, sentar no chão, tomar no copo dos outros, beijar a boca depois de ter recebido sexo oral, tragar cigarro salivado, massagear pés, lamber um tórax suado, usar palavreado chulo para expressar a intensidade das minhas emoções, ouvir putaria no pé do ouvido enquanto tocam meu corpo, receber carinho com as pontas dos dedos nas costas, cafuné, demonstração pública de afeto, abraços sem pedir, sentir que sou observada por quem me interessa, tomar café preto e forte debaixo das cobertas fumando um cigarro, ser chamada de inteligente e bonita, quando mexem nos meus cabelos, quando correm pra me cumprimentar quando chego. 

É, eu disse que era nojento... 

Eu procuro tão pouco nas pessoas e parece que o que eu tenho  nunca vai ser bom pra ninguém. É angustiante. Eu sei que sou frouxa nessa parte, que me interesso fácil pelas pessoas e nessas já quero dar tudo o que eu tenho de bom. E muitas vezes por quem me interesso é que não ajo da maneira como queria ou deveria. Geralmente é pra quem dou menos bola. É patético. 

Mas, hein?

E você, do que gosta? Quer café com adoçante ou açúcar? Pega cigarro ali na minha bolsa.

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