segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mundinho


O café esfriou e eu não estou nada a fim de esquentar, só pra mim não tem graça. Até meu suspiro ecoou pela cozinha, parece tão vazia quanto minha alma. Sai um pouco desse mundinho pra qual te arrastaram. Você acha que está curtindo e amando porque  alguém te deu arrepios no pé da orelha. Eu posso fazer muito mais com você. Parece que o mundo deixa de existir ao nosso redor quando o coração começa a queimar no peito, né? Queimando pela pessoa errada, eu vejo. Devíamos sentar e conversar, discutir, transar, sei lá. Sinto falta de quando me julgava pelo olhar. De quando desaprovava meu comportamento e minhas atitudes. De quando me odiava mas ao mesmo tempo parecia precisar de mim.

Vou fazer seu chá de Erva-Cidreira. Senta lá na sala pra gente ver um filme. Ela deve estar ocupada agora. Desgruda um pouco, sai desse mundinho. Você me tirou da sua vida de tal forma que eu pensei por um momento nunca ter estado nela. É interessante. Você continua um ótimo mentiroso e ingênuo, e eu ainda amo sua panaquice.  Sinto seu cheiro de insatisfação e infelicidade de longe. Sai desse mundinho. Ele é bonito mas é pequeno demais pra você. Eu tenho algo aqui, não quero te impressionar, mas você sabe o que eu tenho e que poderia ser o que você precisa.

Não esqueça de pegar as cobertas, acho que vai esfriar. O céu escureceu e está ameaçando chover. Quer cancelar o filme e fazer amor? Ou talvez fazer amor e depois ver um filme? 
Eu ainda quero esse calor. O calor que seu corpo me prometeu e até hoje me deve. Sai um pouco desse mundinho. Me espere na cama, querido, já subo com seu chá. Deixe as janelas abertas, vamos assistir o mundo desmoronar em pancadas d'água do jeito seco, grosseiro e romântico que só a gente faz. Que tal Woody Allen? Manhattan? Filme agora e sexo depois? 
Talvez um dia eu encontre algum sentimento por mim dentre todo esse silêncio e desdém. É uma delícia ter você me ignorando, me desperta esse desejo em te desafiar. 

Pode rir de mim à vontade, eu ainda sei diferenciar um deboche sincero. Acho bonito esse seu sorriso falso por trás da barba. Não quero que se contente com o que tem, é pouco e eu quero te dar mais. Me espera lá em cima. Esquece um pouco esse mundinho, já passou tempo demais por lá. Agora deixa eu te mostrar um pouco do meu, você nunca deixou e eu sempre tive vontade de te levar lá. 

Ele não é alegre, nem colorido. Não é bonito, nem romântico. Não é insano, nem diferente. Mas é meu e foi tudo o que consegui construir pra você. Talvez exista um pouco de mim nele, assim como deve ter existido em você um dia. Se encontrar, coloque no saco plástico ao lado da porta, pois o lixo o caminhão acabou de levar.

8 comentários:

  1. "Ele não é alegre, nem colorido. Não é bonito, nem romântico. Não é insano, nem diferente. Mas é meu e foi tudo o que consegui construir pra você." ADOREI ♥

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  2. Oi Dan,

    Tudo bem? Obrigada pelo comentário lá no Navegando pelo Cotidiano.

    O seu texto é real e sincero, sem delongas ao dia que só existe.
    "Eu ainda quero esse calor. O calor que seu corpo me prometeu e até hoje me deve". é simplesmente elixir para a alma.

    Beijos.

    Lu

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    1. Olá, Lu. Tudo bem e com você? Eu quem agradeço sua visita. Gostei demais do seu blog, pode esperar por minha visita lá mais vezes, com certeza. Muito obrigada mesmo. Um beijo

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