sábado, 28 de dezembro de 2024
O monstro ao lado da cama
A vida é sobre sentir alguém apertar seu coração e mexer os dedos, como uma criança brincando com massinha de modelar. Isso acontece uma vez, duas e quando se da conta, se passaram 12 anos que aquela criança continua brincando com sua massinha, apertando, colocando contra o chão e batendo, batendo, amassando de novo, agora faz uma bolinha, depois aperta só por diversão para vê-la sair entre os dedos.
À essa altura, os filmes de terror com demônios, espíritos, serial killers são só entretenimento, passa tempo e até um lugar onde se sentir seguro. Você começa a se sentir seguro no meio de monstros declarados. Mas o terror? terror está em levantar da cama e ir para uma empresa que suga sua alma e te trata como lixo. Em iniciar um diálogo, se apegar a pessoas, tomar decisões e criar projetos. Parece engraçado, né?
Um demônio se exorciza, espírito se repreende em nome do Criador, serial killer? se achar é só fazer com ele o que ele faz com suas vítimas. E os não declarados? E aquela voz na sua cabeça que diz "Se lembra do que aconteceu em 1997? Cuidado, pode acontecer de novo." "Ora, estás a inventar moda de comprar um bem? Não vai estar viva para usufruir disso, claro... isso se conseguir dinheiro para pagar." "Acorda aí, está na hora de olhar para todas aquelas pessoas que te detestam no trabalho, e seu chefe homossexual misógino e narcisista". " Está pensando em se apaixonar outra vez? Olha seu histórico, nenhum deles te escolheu, todos foram adúlteros com suas esposas, drogados, alcóolatras e até os bons rapazes que nunca erraram, antes, o fizeram com você."
O olhar diferente estraga seu dia, o tom de voz diferente estraga seu dia, um grito, uma resposta atravessada, o descaso, a demora, o barulho de notificação no telefone. Durante tempos você percebe que o mundo da calafrios. Medo de tomar decisões, lidar com pessoas, dar um passo a frente.
Quando se deita para dormir, o travesseiro é pesado, o colchão parece te engolir, a exaustão parece mastigar seus órgãos. A cabeça parece uma antiga televisão de tubo naquele canal que fica chiando e você? não acha o controle para abaixar aquela merda. É como estar em uma festa, as luzes queimando os olhos, a falação e música, disputando qual é mais alto e quem estourará seu cérebro primeiro. Mas é só sua cabeça.
É como ser um guerreiro medieval, preparado para um combate contra um exército, com lanças e espadas. Como se tivesse alguém tentando entrar em casa, ou sacar uma arma da cueca na fila do caixa do mercado de bairro. Entrar e sair de uma loja sem comprar nada com medo do alarme de furto soar no shopping inteiro. Como se alguém fosse ter uma crise de ira no metrô lotado ou parar o carro do seu lado enquanto anda na calçada e te apunhalar na nuca.
Coisa de louco, né? Mas isso é só a humilde mente. Tudo isso está centralizado na imensa cabeça que você carrega no pescoço, que por muitas vezes da vontade de deitar em uma guilhotina e separá-la do corpo ou meter uma bala, para ver se finalmente o silêncio vem.
A massinha já envolveu todo seu corpo, já prendeu suas mãos, pernas, enrolou no seu pescoço até te sufocar, agora não é mais uma massinha de modelar para brincar e sim uma gosma, escura e viscosa, pegajosa que não consegue se desvencilhar. Te imobiliza, paralisa e desespera. Ela te domina, te suga e te engole e quanto mais você tenta sair, mais partes do seu corpo ela se prende.
ah, a ansiedade...
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